Vazamento de documentos sugere novos envolvidos na Operação Geleira
Vazamento, na tarde de ontem, de supostos documentos da investigação que levou a Polícia Federal a deflagrar a Operação Geleira sugere o envolvimento de 148 prefeituras em esquema de notas frias para desvio de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Fundo para o Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
No dia 19 um total de 30 prefeitos, ex-prefeitos e assessores de 12 prefeituras de todo o estado foram presos por envolvimento com o suposto esquema.
Os documentos trazem listas de empresas que forneceriam notas fiscais falsas às prefeituras; de prefeituras que fizeram negócios com essas organizações; de prefeituras que compraram notas frias; dos valores das transações; e de intermediários dessas negociatas. De acordo com o material, as empresas que intermediavam o esquema compravam notas fiscais frias de empresas fantasmas e as vendiam às prefeituras.
Os valores repassados a essas empresas de acordo com os documentos que vazara, variam de R$ 32.693.83 a $ 336.377,55. São acusadas de venda de notas frias 10 empresas e de intermediar a compra e venda dessa notas outras 11 organizações. A estimativa oficial da PF é que o esquema tenha movimentado aproximadamente R$ 20 milhões.
Estariam envolvidas no esquema 23 prefeituras, entre elas a Prefeitura Municipal de Teresina. Outras 125 teriam mantido negócios com as empresas envolvidas no esquema - nesse caso, a PMT também é citada.
O conteúdo dos documentos, que fariam parte da investigação da Operação Geleira e que vazaram para a imprensa, foi publicado na tarde de ontem pelo Portal AZ. A reportagem de O DIA tentou durante toda a tarde e início da noite de ontem obter informações por parte da Polícia Federal sobre o assunto, mas não obteve êxito.
Depoimentos
Durante a tarde de ontem, circularam informações de que a Justiça Federal teria autorizado a quebra do sigilo fiscal dos 30 presos na Operação Geleira. Porém, a autorização é antiga, de antes da deflagração da operação. A Polícia Federal confirmou ainda que devem depor nos próximos dias 50 pessoas, entre secretários municipais, servidores públicos e até agiotas.
Presidente da APPM diz não acreditar em participação de 150 prefeituras no esquema
O presidente da Associação Piauiense de Municípios (APPM), Francisco Macedo, prefeito de Bocaina (município que não aparece nas listas de prefeituras investigadas por envolvimento no esquema de notas frias) disse não acreditar que 148 prefeituras do Piauí tenham participação no caso investigado pela Operação Geleira. Esse número representa mais de 66% do total de prefeituras do estado (224).
Segundo Macedão, esse é um momento que requer cautela, mas também bastante preocupante. "Essa é uma situação lamentável, se isso for verdade. Ainda não vi a matéria, mas prefiro parte do pressuposto de que todos são inocentes até que se prove o contrário. Não acredito que 150 prefeitos façam parte disso", comentou o prefeito.
Francisco Macedo argumentou, porém, que os prefeitos não tem condições de fiscalizar a existência de todas as empresas vencedoras de licitação, conferindo a legitimidade dos endereços apresentados, por exemplo. "É por isso que essas empresas tem de apresentar certidões negativas, CNE (inscrição no cadastro nacional de empresas)", enumerou. "Outra coisa, tudo isso é fiscalizado pelos órgãos de controle (como os Tribunais de Contas do Estado e da União)", acrescentou.
O presidente da APPM admitiu que a "imagem da municipalidade" já está arranhada por conta da Operação Geleira. "A classe política brasisleira já é tão desacreditada... é mais deprimente ainda para a classe", comentou. Macedão disse ainda que o departamento jurídico da APPM está à disposição de todos os prefeitos que solicitarem apoio.
Ao todo, oito prefeitos e ex-prefeitos foram presos preventivamente durante a Operação Geleira, mas foram soltos na última segunda-feira por estarem colaborando com as investigações da Polícia Federal.
- Fonte: Jornal O Dia
