Redirecionando

domingo, 30 de janeiro de 2011

Crime está se reorganizando no Piauí, diz secretário de Segurança


Na sua segunda gestão como secretário de Segurança Pública, Robert Rios Magalhães, vai ter mais trabalho que na primeira. É que, durante entrevista exclusiva concedida ao Jornal O DIA, Robert alertou que os integrantes do crime organizado do Piauí, que foram presos no final da década de 1990, estão se reorganizando e preparando-se para agir.


"Todo o bando (de integrantes do crime organizado) já foi solto e em contato intermitentes. Acredita-se que estão hoje se reorganizando, mas o Estado também está reaparelhado, organizado, pronto para enfrentá-lo novamente", afirmou o secretário. Deputado estadual reeleito no ano passado, Robert Rios também falou de política na entrevista a O DIA. Com sua saída da Assembleia Legislativa para ser secretário, que pode assumir no seu lugar é a suplente do partido, Millane Patrícia, que teve apenas 30 votos e não o Pastor Gessivaldo (PRB), que teve até mais votos do que um deputado eleito (17.777). Apesar da polêmica, em que a justiça eleitoral não decidiu ainda se a vaga é do partido ou da coligação, Robert Rios defende que a vaga seja do partido. "O Pastor Gessivaldo, com todo o talento que ele tem, ele não representa a ideologia do meu partido, ele não representa o programa do meu partido", afirma. 

Confira a entrevista!


Sua relação com o PT saiu arranhada por não ter apoiado Antônio José Medeiros para o Senado?

Eu me lancei como précandidato ao Senado e foi o PT, através do deputado Assis Carvalho, que veio me comunicar que eu não teria o apoio do partido como candidato ao Senado, embora eu estivesse, em todas as pesquisas feitas até então, como o segundo colocado. Das duas vagas, em primeiro era Wellington Dias e, em segundo, era Robert Rios. Quando eu vi que não teria o apoio do PT, eu retirei minha candidatura. Mas eu votei no Wellinton Dias pelo PT. Votei, fiz campanha em todas as minhas bases e, em todas elas bases, o Wellington foi o mais votado do partido. Agora, na segunda vaga, eu votei no deputado Ciro Nogueira e fiz pela juventude do deputado Ciro Nogueira. Pela força de vontade do deputado Ciro, eu acho que fiz corretamente. Nós não estávamos coligados com o PT. Quem lembra bem sabe que na eleição passada o PT não quis se coligar proporcionalmente com os deputados estaduais de outros partidos, lançaram chapa única. Então, se eles preferiram o isolamento, eu fiquei à vontade para apoiar o Ciro.


O senhor está satisfeito com a participação do PCdoB no Governo do Estado?

Claro que sim, o PCdoB é muito prestigiado pelo governador Wilson Martins. Nós estamos ali, Robert Rios na Segurança, Dalton Macambira na Secretartia de Meio Ambiente; sou prestigiado como deputado, Ormar Júnior é prestigiado como deputado, nós temos várias lideranças do partido dentro do governo Wilson Martins. Eu acho que ele foi muito justo, leal e muito generoso com o PCdoB.


Depois de uma passagem anterior pela Secretaria de Segurança, qual será o foco dessa sua nova gestão?

Nós sabemos hoje que a cada dez crimes cometidos no Piauí, tanto homicídio como latrocínio como assalto, nove estão relacionacionados com o uso de drogas. Então, nosso foco principal é combater o crack no Piauí. Nós sabemos que o crack é uma droga maldita maquiavélica, que invade e destrói a nossa família. Aonde o crack entra numa família, ele destrói toda a felicidade. Então, nós vamos usar todo o nosso conhecimento, toda a nossa vontade e perseverança pra combater o crack. E já estamos nos organizando, vamos começar um curso na Academia de Polícia Civil com todos os policiais civis e militares para que todos possam entender o problema do crack. O próprio governador Wilson Martins vai fazer uma grande coordenação no Piauí de combate ao crack, assim como a presidente Dilma [em âmbito nacional]. Eu acho que o Brasil está se mobilizando para esse combate. Agora, é importante que tenha solidariedade, é importante que a Igreja Católica, as igrejas evangélicas, outras instituições, efim, que a sociedade inteira se levante na luta contra o crack.


E qual será o papel da Secretaria de Segurança Pública nessa Câmara de Combate recém-criada pelo governador?

Nós vamos fazer a parte do enfrentamento. Todos vão participar na recuperação dos usuários de droga, mas não podemos mais ver os nossos irmãos que usam crack no Piauí - verdadeiros zumbis que estão se autodestruindo, destruindo a felicidade de suas famílias - vê-los como inimigos do Estado, como delinquentes. Nós temos que vê-los como alguém que precisa de socorro, de ajuda. E vamos ajudá-los, recuperá-los e restituí- los à família, à sociedade para que eles possam ser produtivos, voltar a estudar, a trabalhar, esse é o papel. Mas também, a Segurança tem um papel que é fundamental, que é de combater os cartéis de drogas. E nós combateremos com todo o ardor, com toda a força da nossa alma os cartéis de drogas. Nós estamos agora identificando em cada bairro de Teresina, em cada cidade do Piauí que são responsáveis pelo crack no Piauí e vamos combatê-los. Eles não perdem por esperar.


O senhor voltou a ser nomeado para a Segurança sob fortes protestos dos policiais civis. A que atribui essa impopularidade? Pretende tentar contornar a situação?

Recentemente eu estive com os dois sindicatos, fizemos uma ampla reunião sentados lado a lado. Eu acho que esse protesto não existe mais. É a maneira do Robert Rios. Eu tenho dito que o policial é um espelho da sociedade, ele não pode ser hipócrita: "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço". O policial tem que dar exemplo, tem que ter uma conduta de vida na sociedade em que está inserido e eu fui duro com eles. Na minha gestão eu demiti 21 policiais. Então, eu tenho dentro da corporação aquela fama de um homem que é extremamente duro, que não admite o desvio de conduta, e vou continuar sendo assim. É importante. Eu quero que a população chegue numa unidade da polícia civil ou militar e seja recebida com decência, com delicadeza e não aos gritos, como era antigamente. Eu quero que os presos sejam presos, mas tratados como presos do Estado e que não sejam espacados ou torturados. É isso que é Robert Rios e isso vai de encontro a muito gente.


Os sindicato dos policiais fez reiteradas denúncias de que há subnotificação dos crimes no Estado e, por conta disso, os índices de criminalidade no Estado são tão baixos. O senhor pretende informatizar o sistema e aplicar alguma medida para garantir a confiabilidade dos dados?

No mundo todo as ocorrências são muito bem colocadas. No Brasil, nos países da América Latina, há um certo receio, uma certa dúvida de subnotificação de crime, em primeiro lugar pelo problema cultural. Por exemplo, crime de estupro, muitas pessoas não gostam de dizer que foram estupradas, muitas vítimas não procuram a delegacia, não registram; os crimes de pequeno furto, as pessoas que vão passando na rua e têm um celular, um cordão de ouro arrancado, ou seus documento, o vidro do seu carro quebrado, essas pessoas não vão à delegacia registrar ocorrência, pensam que não adianta, que não interessa, que não tem jeito e tal. Mas a Organização das Nações Unidas (ONU), pelo problema do Brasil, tem colocado o homicídio como parâmetro pra se medir a temperatura do crime, porque todo homicídio é 100% notificado. Não há um único homicídio no Brasil, e no Piauí, que não gere um inquérito policial. Nunca houve um caso de alguém que foi assassinado em algum lugar e que não teve inquérito policial. Então, a ONU, a partir dos dados de homicídio, ela faz uma relação com outros crimes, com estupro, roubo, assalto e tudo mais. Então, o Piauí é o Estado do Brasil que tem menos homicídios por grupo de 100 mil habitantes. É o único Estado do Brasil cuja relação de homicídios por grupo de 100 mil parece com alguns países de primeiro mundo. Você pega como exemplo um Estado como Alagoas, que é a população igual à do Piauí e que tem um território cinco vezes menor que o Piauí, tem 68 homicídios por grupo de 100 mil, já o Piauí tem pouco mais de 9 homicídios por grupo de 100 mil. O Piauí é o único Estado do Brasil que vem, ano a ano, continuamente, caindo o número de homicídios. É um trabalho árduo, difícil, não há subnotificação do número de homicídios. E, a partir do número de homicídios, é que nós sabemos como é que estão os outros tipos de crimes, até porque o homicídio, o registro dele é cruzado: a polícia diz quantos homicídios aconteceram, mas o Ministério da Saúde também recebe a mesma informação através da rede hospitalar, do IML, de seguros, são vários cruzamentos de dados. Então, é impossível esse número ser maquiado.

O DIA


Tem-se noticiado com mais frequência assaltos a bancos no interior do Estado e roubos de veículos. Que medidas o senhor pensa em implementar para combater essas ações?

Veja bem, nós somos o Estado brasileiro que tem o menor índice de assalto a bancos e muito distante do segundo colocado. Nós quase não temos assalto a banco no Piauí. Enquanto alguns Estados do Brasil, como nosso vizinho Ceará, que tem mais assalto a bancos num único final de semana, num único dia, do que tem o Piauí num ano inteiro. No Piauí, nós temos uma média de três assaltos [a banco] por ano, enquanto no Ceará não tem um final de semana que não tenha três assaltos a banco. Nós temos aqui uma rede de inteligência que é muito poderosa no sentido de controle de assalto a banco. E mais um detalhe: todos os assaltos a banco no Piauí foram desvendados, autoria determinada e os assaltantes presos.


O governo vai chamar os delegados concursados? O Ministério Público tinha entrado com uma ação para que policiais militares não fossem mais a autoridade policial máxima nos municípios. Como ficou essa questão?

Nós temos que desmistificar essa questão. Não existe nenhuma ação da Procuradoria nesse sentido. O Ministério Público ou a Procuradoria não entrou com ação nenhuma. A imprensa noticiou, mas não acha a ação. O Estado começou a fazer sua parte, o Estado concursou, o Estado formou na Academia e o Estado vem convocando, mas dentro da  possibilidade financeira do Estado. Não é bom para o Estado e nem é bom para os concursados serem chamados e não serem pagos. Então, o Estado tem que ter responsabilidade de convocar, chamar e pagar. A parte do curso de formação já foi feita e a maior parte já foi chamada. O governador agora vai chamar mais  uma outra parte, e vai paulatinamente chamando até que todos estejam inseridos no sistema, mas é preciso fazer isso com cautela, com responsabilidade porque a folha de pagamento nossa tem uma margem muito estreita de manobra por parte do Governo. Agora, nós estamos pleiteando junto ao governador que chame mais cinco e assim vai ser: cinco, quatro, três, até que estejam todos convocados.


O ex-coronel Correia Lima está em vias de conquistar a liberdade pelo regime de progressão de pena. Como o senhor avalia hoje a situação do crime organizado no Piauí?
Primeiro, quando falamos em crime organizado, ficamos envergonhados. Como é que um cidadão que praticou vários crimes no Piauí, ficou mais de 10 anos preso, encarceirado, e a Justiça não conseguiu julgá-lo? Se a Justiça não consegue julgar quem está preso, imagine quem está solto! Nós temos o caso do Safanelli, de um policial civil que ele matou em Parnaíba e que ele não foi julgado; nós temos o caso aqui dos amarrados, queimados, que também não foi julgado; e assim são vários crimes do excoronel Correia Lima que não foram julgados. Se houvesse sido julgado, ninguém falaria aqui na soltura dele. É preciso que essa cultura da impunidade seja interrompida muito rapidamente aqui no Piauí. Infelizmente, é uma cultura perversa, amarga e muito cruel para a sociedade.

E que informações o senhor tem, da Comissão de Inteligência, sobre a situação do crime organizado hoje no Piauí?
A informação é que estão todos soltos, não estão em vias de ser solto, todo o bando já foi solto e em contato intermitentes. Acredita-se que estão hoje se reorganizando, mas o Estado também está reaparelhado, organizado, pronto para enfrentá-lo novamente.


E por que o programa Guardião Eletrônico ainda não está funcionando a pleno vapor?
É porque é devagar mesmo, nós temos que ter o cuidado de diagnosticar os pontos de violência, onde é necessário. O Guardião Eletrônico não é nem um projeto que deve ser divulgado pela mídia, é uma salvaguarda dos policiais, é o policial estar vigiando uma rua e a rua não sabe que o policial está vigiando. O bandido achaque está tranquilo na porta de um shopping e ali está um ponto eletrônico. Mas é um projeto que está se ampliando muito rapidamente, o Governo quer ampliar, está ampliando e logo, logo nós vamos ter esse projeto em toda a nossa capital.

O que nós sabemos é que as câmeras estão instaladas, mas ainda não há policiais fazendo o monitorando 24h...
É o contrário, eu mesmo estive lá recentemente e tem policial treinado para isso. Agora, necessariamente, em nenhum lugar do mundo se usa policial pra isso. Policial tem que estar é na rua, trabalhando, dando atenção a sociedade. Nos Estados Unidos, por exemplo, se usa muito o idoso, a mão-de-obra da terceira idade pra isso; em outros lugares os deficientes, pessoas que não podem se locomover, mas pode ficar sentado olhando as câmeras; ex-policial que foi acidentado, que perdeu uma perna, que perdeu um braço, que não pode estar na rua, mas pode estar diante das câmeras. 

Há novidades a respeito de concurso público para a área de Segurança Pública no Piauí?
 Agora mesmo o governador nomeou quase 500 policiais militares e está formando mais e, na Polícia Civil, nós estamos conversando com o governador. O Estado passa por uma situação financeira que não é das mais confortáveis, qualquer pessoa que ingressa no serviço público cria problema na folha de pagamento, mas como nosso concurso leva um ano, no que se começa a programar para ter o policial na rua, nós estamos conversando com o governador para começar o mais rápido possível


  • Fonte: Jornal O DIA

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