“Ameaças não devolverão professores as salas", diz João de Deus
"Ameaças não farão os professores voltar às aulas". A afirmativa é do deputado estadual João de Deus (PT) e foi proferida durante discurso de posse na Assembleia Legislativa, realizada na manhã de ontem. O petista retorna à Casa, após passar dois meses a frente da Secretaria Estadual de Assistência Social (Sasc), com o pedido de licença do deputado Merlong Solano (PT), que se ausentou para assumir a Secretaria Estadual de Cidades.
O petista diz que assume o mandato com uma missão de intermediar acordo entre os professores grevistas e o Governo do Estado com o objetivo de se chegar a um consenso que possibilite o fim da greve, que já entra na terceira semana. "Não é com ameaças que o Governo do Estado irá conseguir superar o impasse com a categoria. Os professores têm sido ameaçados há 30 anos e nem por isso deixaram de fazer greve. O que precisamos é sentar e discutir com a categoria uma solução para superar o problema", frisou, se referindo à determinação do governador Wilson Martins em cortar o ponto dos grevistas. A "missão" ele assume na condição de vice-líder do governo na Casa.
Em seu discurso, o deputado agradeceu ao governador pela oportunidade de exercer um mandato no executivo e caracterizou a experiência como "desafiadora". "Foram dois meses de desafiadora experiência. Na Sasc pude conhecer mais de perto a realidade da Assistência Social. Saio de lá, deixando Janaína Mapurunga, que tem larga experiência na área e que tem muita competência", pontuou.
A posse do parlamentar petista foi bastante prestigiada por familiares, amigos e correligionários partidários. João de Deus frisou que seu mandato de deputado terá como bandeiras principais a defesa da educação, e melhoria nas áreas de assistência social e agricultura familiar.
A saída de João de Deus da Sasc foi a meio à turbulências. Inicialmente, o petista manifestou o desejo de permanecer a frente da pasta, mas teve suas pretensões rechaçadas pelo governador, que insistiu na presença do parlamentar na Assembleia. Martins alegou a "experiência dele a frente do legislativo" que seria importante para a discussão de projetos importantes para o Estado. Ao anunciar que deixaria a pasta, o Partido dos Trabalhadores se reuniu para discutir quem substituiria João de Deus na Sasc.
O nome proposto pelo partido foi o de Francisco Guedes (PT), mas foi vetado por Martins que exigiu uma lista tríplice, para o descontentamento dos petistas. A relação com os três nomes ainda não foi apresentada ao governador e, enquanto isso, Janaína Mapurunga assumiu a função interinamente.
Sindicato afirma que só encerra a greve depois de proposta concreta por parte do Governo
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação (Sinte), Odeni Silva, disse ontem que a categoria aguarda uma proposta concreta por parte do Governo do Estado para que os professores retornem à sala de aula. As negociações para por fim à greve dos professores da rede pública estadual podem chegar a um consenso após uma audiência pública que será realizada nesta quarta-feira, às 15 horas, no plenarinho da Assembleia Legislativa.
O deputado Evaldo Gomes (PTC), autor do requerimento que solicitou a audiência pública, explicou que a iniciativa da audiência pública partiu do pressuposto de que a greve está atingindo não apenas os professores. "São mais de 450 mil alunos que estão sendo atingidos. Fui eleito com a bandeira da defesa da educação e dos direitos dos estudantes e é preciso se chegar a um consenso para que as aulas retornem e esses alunos não sejam prejudicados", argumentou.
O parlamentar acrescentou que a audiência pretende também discutir a situação estrutural das escolas. Ele lembra que os professores reivindicam não apenas melhoria salarial." È preciso se discutir a situação das escolas públicas. O Piauí é sempre colocado como um dos piores índices educacionais", reclamou, acrescentando que o piso salarial dos professores foi aprovado e o Estado deve arcar com ele. "O impasse é porque os professores querem o retroativo e o Governo não quer pagar. O piso foi aprovado mas ele (governador) não quer dizer que foi", disparou.
A professora Odeni Silva, presidente do Sinte, reclamou das declarações do governador que determinou o corte do ponto dos grevistas. "O Governo não pode cortar ponto. É um equívoco dele e uma arbitrariedade", frisou, acrescentando que a greve não foi decretada ilegal pelo Tribunal de Justiça. "O governador vem anunciando que a greve foi considerada ilegal e não foi. Houve apenas a recomendação do TJ para que voltássemos, mas nem sequer fomos notificados e ainda iremos recorrer da decisão se isso acontecer", comentou.
A professora acrescentou que a determinação do Ministério da Educação é de que o piso seja pago desde janeiro. "O governo disse que pagará, mas não disse a partir de quando. Ao não nos colocar uma proposta concreta, o Governo dá demonstrações de que está mal intencionado. Pode querer que retornemos a sala de aula e não honrar com o pagamento que nos é de direito. Só sairemos da greve se houver algo concreto", frisou. A audiência pública, segundo ela, será um momento em que os problemas serão colocados para se chegar a uma solução. Após a audiência, a categoria pretende se reunir em Assembleia para avaliar a posição e decidir pelo fim ou pela manutenção da greve.
Secretário de Administração aguarda Assembleia da categoria antes de cortar ponto de grevistas
Se depender do secretário estadual de Administração, Paulo Ivan, o corte do ponto dos professores grevistas não será adotado, como ordenou o governador Wilson Martins (PSB). Ontem, durante entrevista a uma emissora de TV local, o secretário disse que aguarda o resultado da Assembleia da categoria, marcada para hoje, antes de tomar a decisão.
Paulo Ivan argumenta que o Governo busca um acordo que possibilite o retorno dos professores à sala de aula para que os alunos da rede pública estadual não tenha o ano letivo prejudicado. O secretário, entretanto, não descartou que o ponto dos grevistas seja cortado, caso não se chegue a um acordo. "O corte no ponto é previsto em lei, como conseqüência da falta ao trabalho. Mas estamos de portas abertas para negociar e esperamos a assembleia da categoria", explicou.
O secretário argumentou que o Ministério da Educação anunciou a aprovação do piso nacional no valor de R$ 1.188, mas o Sindicato dos Trabalhadores na Educação quer que o reajuste seja retroativo a janeiro. O Governo alega dificuldades financeiras para pagar o piso retroativo, mas garante que buscará subsídios para viabilizar o pagamento dos salários.
- Fonte: Jornal O DIA